Formação: Somos Adoradores de imagens?

O presente texto tem a finalidade de sabermos se de fato somos adoradores de imagem como em muitas vezes somos acusados por nossos irmãos protestantes.

Carrego comigo a impressão que eles gastam tempo demais nos acusando de idólatras e sucumbindo suas forças para nos converter a sua realidade protestante. Será que não seria mais conveniente seu administrassem seu tempo e forças na salvação das almas que de fato estão perdidas? Não seria melhor estarem nas bocas de tráficos tentam converter aqueles que estão no submundo do vício ou nas portas das casas de prostituição resgatando a tantos que vivem uma vida profana, muitas vezes no adultério levando para suas esposas e esposos doenças incuráveis, tanto no físico quanto na alma?

Bom! Não cabem a nós respondermos e essas questões.

Tentaremos responder de forma simples sem grandes conceitos teológicos, a fim de que o mais simples possa compreender o enunciado causador de tantas discussões: somos adoradores de imagem?

                Para que cheguemos a uma resposta é preciso recorrer num primeiro momento a Sagrada Escritura, partiremos dos mandamentos do Senhor e percorreremos por algumas passagens que possam nos levar a esse entendimento. Veremos alguns escritos e o Catecismo da Igreja Católica tudo com o intuito de conhecermos melhor a nossa fé. Não há, repito, a intenção de se fazer um estudo teológico, mas sim um texto no qual aquele o aquela que não compreenderiam a profundidade de um estudo mais elaborado de Teologia, possa encontrar aqui repostas para seus questionamentos.

O Primeiro mandamento da Lei de Deus é:

“Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento”.

Amar a Deus de todo o coração é, sobretudo, reconhece-lo como Deus e assim adorá-lo. A Adoração é o reconhecimento de que Ele é Deus, Criador, Salvador e Dono de tudo quanto existe na terra.

O Catecismo da Igreja Católica, §2097 diz:

“Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer “o nada da Criatura”, que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que seu nome é santo. A Adoração ao Deus único liberta ao homem de se fechar em si mesmo da escravidão do pecado e da idolatria do mundo”.

Na verdade somos chamados a adorar o único e verdadeiro Deus criador de todas as coisas, “o primeiro apelo e a exigência justa de Deus é que o homem o acolha e o adore”, está escrito no Catecismo da Igreja Católica.

O ato de adorar a vários deuses, o politeísmo, ou há outros deuses que não seja o Deus Criador é condenado não pelas igrejas protestantes, mas sim pela própria igreja católica que existia ha mais de 1500 anos, quando se deu inicio a reforma protestante com Martinho Lutero. Lembremo-nos do evento em que Paulo ao passar pela cidade de Atenas depara-se com um altar dedicado ao Deus desconhecido. O povo grego era orientado por vários deuses, existia todo tipo de deus, para várias situações. Paulo impulsionado pelo Espirito Santo se põe no meio da cidade e anuncia o Deus verdadeiro o único digno de adoração[1].

Não apenas o povo grego, mas a população antiga dos séculos que antecederam o povo do Deus criador colocava sua fé na diversidade dos deuses. “Para os babilônicos e assírios, o deus sol era chamado Shamash, vindo a frente de 66 outros deuses, entre os tais, Tamuz (que, segundo sua mãe, Semíramis, seria o Messias, o Filho da promessa). Semíramis era mulher de Nimrod, bisneto de Noé e fundador e rei da Babilônia. Ela se dizia a Rainha do Céu (ou Astarote), deusa a quem muitas mulheres judias acendiam incenso nas ruas de Jerusalém, como denunciava o profeta Jeremias”[2].

Quando a sagrada escritura fala na proibição da adoração a outros deuses, ela está condenando verdadeiramente essa prática ao dizer:  “ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens” os quais “têm boca e não falam, têm olhos e não veem”… “Como eles serão os que o fabricam e que põem neles sua fé”.

“A idolatria não diz respeito apenas aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consisti em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando homem presta honra e adoração a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de demônios e etc. A idolatria é uma perversão do sentimento religioso inato do homem”[3].

A origem da palavra idolatria está em dois radicais do vocabulário grego: eidolon + latreia. Eidolon significa corpo e Latréia significa Adoração. A idolatria está relacionada a aquilo ou aquele que tem aparências corporais, ou seja, é darmos há algo ou alguém título de divindade e não simplesmente a construção de imagens. Pensemos: qualquer um de nós, católicos ou não-católicos, podemos ter deuses em nossa vida quando colocamos, por exemplo, alguém no lugar de Deus; um pai ou uma mãe que tem o seu filho como deus. Alguém que vive em função de outro alguém, ou do trabalho e etc, isso é divinizar o que não é Deus.

Em Êxodo 20, 3-5 está escrito: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida de nada se assemelhe ao que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses…”. Vamos entender a passagem.

Não terá outros deuses”: É importante, nós católicos, sabermos que não temos outros deuses, nós de fato acreditamos num único Deus. O Deus Criador. Aquele que fez os céus, a terra, as águas, os animais e soprou sobre nós, sua obra prima, o sopro da vida. Nós acreditamos, amamos e adoramos o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó. “Adoramos o Deus que nos foi revelado em Jesus Cristo, Ele que disse a Felipe: “Quem me viu, viu o Pai” e “eu e o Pai” somos um”. É nesse Deus verdadeiro que acreditamos e não em um deus construído, inventado, pelas mãos humanas.

Não farás para ti imagem esculpida de nada se assemelhe ao que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra: A ordem de Deus é que não construamos imagens daquilo que está em cima no céu e embaixo na terra e demo-las as honras de Deus. Em cima no céu e não acima do céu, prestem atenção da diferença. O pedido de Deus é que não construamos imagens que se assemelhem ao que está nos céu, ou seja, podemos entender que o Senhor está nos pedindo que não façamos imagens de Aves ou de um Astro e demos a eles o título de deus como, por exemplo, para os romanos Marte era o deus da guerra. E o mesmo serve para a questão da terra ou da água, para que não construamos imagens de animais, plantas, peixes ou homens e demos a eles as honras que cabem ao Deus Criador.

Não te prostrarás diante desses deuses…: prostrar-se significa abaixar-se, curvar-se, humilhar-se em postura de súplica ou de adoração. O Ato de prostração é de fato cabível somente a Deus. Então alguém ainda pode nos acusar de sermos adoradores de imagens, pois em muitas ocasiões somos “flagrados” diante de uma imagem de nossa Senhora, mas será que isto é um ato de adoração? Será que estamos errados? NÃO!

Quando Senhor pede que se construa a Arca da Aliança instrui a Moises que se construa a imagem de querubins e se coloque sobre a “tampa” da Arca como lemos em Êxodo 25, 10-22:

“Também farão uma arca de madeira de acácia; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio, e de um côvado e meio a sua altura. E cobri-la-á de ouro puro; por dentro e por fora a cobrirás; e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor; E fundirás para ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela, duas argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado. E farás varas de madeira de acácia, e as cobrirás com ouro. E colocarás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca. As varas estarão nas argolas da arca, não se tirarão dela. Depois porás na arca o testemunho, que eu te darei. Também farás um propiciatório de ouro puro; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio. Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade de uma parte, e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório, fareis os querubins nas duas extremidades dele. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; as faces deles uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o testemunho que eu te darei. E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel”[4]. (Conferir também: Números 7, 89; A ornamentação do templo: Ezequiel  41, 18-21).

Olhem que interessante fala do Senhor. Deus pede que se construa a arca da aliança, que se coloque a imagem de dois querubins e, ainda, afirma no versículo 22: “E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel”. Será que Deus está se contradizendo? Não! De fato muitas vezes a palavra de Deus é interpretada segundo os próprios interesses.

Vamos ainda percorrer a Sagrada Escritura. Em Josué 7, 6 nós é narrado a atitude de Josué diante da Arca da aliança após a aparente derrota sofrida:

“Josué então rasgou as vestes, prostrou-se com a face em terra DIANTE da Arca do Senhor até à tarde, tanto ele como os anciãos de Israel, e lançara pó sobre suas cabeças”.

Ali orou ao Senhor e o próprio Senhor, como havia prometido, falou-lhe do meio dos querubins aquilo que Josué deveria fazer, como está escrito em Josué 7, 10ss.

Percorrendo pelas Sagradas Escrituras vamos nos deparar com algumas passagens que narram à confecção de imagens. Em Números 21, 4-9 está escrito:

então, partiram da montanha de Hor pelo caminho do mar de Suf, para contornarem a terra de Edom. No caminho o povo perdeu a paciência. Falou contra Deus e contra Moises: “por que nos fizestes sair do Egito para morrer no deserto”?…Veio o povo dizer a Moises: pecamos ao falarmos contra o Senhor e contra ti. INTERCEDE junto a Deus para que afastem de nós estas serpentes. Moises intercedeu pelo povo e o Senhor respondeu-lhe: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a numa haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá”. Moises, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia”. ( conferir também: 1Cr 28, 18-19).

Mas ainda somos acusados de adorarmos as imagens dos santos. Desses homens e mulheres que nos deixaram um grande exemplo de fé.

Na sociedade é comum vermos pessoas que já morreram sendo homenageadas por terem sido grandes cidadãos que mudaram a história, ou deixaram grandes marcas, uns ganham um busto no centro de uma praça pública, outros tem seu nome em uma rua e etc. No Estado das Minas Gerais encontramos uma imagem de “Tiradentes” grande mártir da inconfidência mineira e ninguém diz que o povo mineiro é um idólatra. É por que ele está lá não para ser adorado, mas lembrado. O mesmo acontece com o memorial que foi erguido no Planalto Central em homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek pelos seus grandes feitos. As pessoas que o ergueram são acusadas de serem adoradoras de imagem? Não são!

E por que nós Católicos pelo fato de trazermos presentes a imagem daqueles e daquelas que foram grandes exemplos na vida cristã somos acusados de sermos adoradores? Não estaria aqui oculta uma questão política-religiosa, ou seja, será que nesta afirmação não esteja embutido uma disputa por fiéis?

Na realidade nós não somos adoradores de imagens, mas temos sim conosco a figura de homens e mulheres que se tornaram grandes santos pelas suas virtudes heroicas para defenderem a fé e por testemunharem seu amor a Jesus Cristo.

Tragamos a lembrança à pessoa de Francisco de Assis, homem nobre, filho de um importante comerciante de sua época, que após fazer a experiência de Jesus Cristo no evangelho, abandona toda sua riqueza e se despi de sua nobreza para servir a Jesus Cristo no vigor de sua pobreza; isso não é santidade? Os santos são aqueles que foram escolhidos, separados por Deus. Sua presença em nossa vida representada por uma simples imagem tem o objetivo de manter viva em nós à coragem desse homem de se despir até mesmo da roupa de seu corpo para estar nos braços de Deus servindo-o no pobre dos pobres. E Nicolau de Nissa, que por amor ao Senhor abandona sua família, com o consentimento da mesma, para fazer Jesus Cristo conhecido e amado. As imagens desses homens querem apenas manter viva em nós o amor e a fé em Jesus Cristo e, nos questionar e afirmar que a santidade proposta por Deus nos é possível: “Sede santos como eu sou Santo”.

Martinho Lutero, ex-religioso da igreja católica e fundador do Protestantismo, afirma em um dos seus escritos, já na época do seu movimento: “Ninguém nunca se esqueça de invocar a Virgem e os santos, pois eles podem interceder por nós.” (Lutero, Prep. ad mortem)[5]. Não queremos entrar na questão sobre intercessão dos santos e de Nossa Senhora, pois isto seria um novo texto, mas só para dizer o que pensa o pai do protestantismo.

Na igreja protestante vamos encontrar imagens, talvez não com o mesmo significado, mas elas estão lá. Em “algumas denominações, bem como segmentos internos de denominações no protestantismo utilizam símbolos visuais em sua liturgia. Anglicanos High Church, Luteranos Hochkirchliche Bewegung, Irmãos Morávios, entre outros, possuem cruzes (mas não crufixos – escultura de Jesus Cristo crucificado), VITRAIS DE CENAS BÍBLICAS E SANTOS DA CRISTANDADE E ESTÁTUAS MONUMENTAIS (como a fachada dos MÁRTIRES na Abadia de Westminister)”[6].

Nós católicos não adoramos imagens, mas reconhecemos a importância daqueles que elas representam. Foram, são e sempre serão grandes ícones da fé, homens e mulheres que com seu exemplo de santidade e amor a Deus nos ensinam o caminho da Verdade que é o próprio Cristo, a fim de cheguemos, juntos, a Jerusalém Celeste, a cidade santa, reservada a todos os santos, a todos aqueles que traçaram a via de santidade, sejam eles católicos ou protestantes. A pátria Celeste é reservada aos santos, negar a existência deles é no mínimo negar a promessa do Senhor de que todos aqueles que traçarem esta via alcançarão o Jardim Celeste; lá é o lugar dos santos, então sejamos SANTOS!

Em fim a nossa atitude em relação as imagens é de veneração. “Veneração (do latim veneratio, do grego δουλια, “douleuo” ou “dulia”, que significa “honrar”) ou Veneração dos santos descreve uma especial devoção aos santos, que são considerados modelos de vida cristã que gozam no Céu da vida eterna, podendo interceder pelos fiéis, sendo a veneração uma forma de prestar-lhes respeito. O Culto Divino está devidamente reservado apenas para Deus (latria) e nunca para os santos. Embora o termo “veneração” ou “culto” seja frequentemente utilizado, verdadeiramente significa apenas prestar honra ou respeito (Dulia) aos santos. Veneração não deve ser confundida com idolatria[7].

Nós não somos idólatras, pois adoramos ao único Senhor, Jesus Cristo o Deus vivo e verdadeiro, que veio ao mundo a fim de revelar-nos o rosto do Pai assim como está descrito em São João: “ No principio era o verbo. E o verbo era Deus… e o verbo habitou entre nós”.


[1] Cf.: Atos 17, 16ss.

[3] Aquino, Felipe. Moral Católica e os dez mandamentos. 1ª edição. Lorena: Cléofas, 2005. Pág.: 70.

[4] Conferir também: Números 7, 89; A ornamentação do templo: Ezequiel  41, 18-21

[7] http://pt.wikipedia.org/wiki/Venera%C3%A7%C3%A3o

Anderson Bittar (Membro de Aliança da casa missionária Emanuel), formado em Filosofia, pregador.

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